domingo, 12 de agosto de 2012

[Repressão] BOPE reprime trabalhadores do centro


Na ultima segunda-feira (06/07/2012) houve, como a maioria a população já está sabendo, uma manifestação dos trabalhadores informais no centro da cidade de Maceió que, basicamente, revindicavam melhorias nas suas condições de trabalho, e essa manifestação acabou não tendo tanta cobertura e divulgação dos verdadeiros fatos na grande mídia formal/convencional. Por isso, intenciono nesse texto, esclarecer e explicitar os reais (e adianto: gratuitamente brutais) acontecimentos daquele dia e situação.

Na segunda-feira fui ao centro da cidade, quando por volta das 11:30, andava pela rua do comércio,  e vi começar então uma repentina correria por parte da maioria das pessoas que estavam no local, acompanhada por uma estranha (e para mim nova) situação: os lojistas estavam, apressadamente, baixando as portas das lojas sem hesitar, mesmo com clientes lá dentro. Sem entender o que acontecia, perguntei a um homem próximo a mim o porquê das lojas estarem fechando de repente, e ele me disse que era por conta da manifestação dos ambulantes, e que os lojistas temiam que estes quebrassem as lojas. Não entendi muito bem a conexão entre as coisas que o homem havia me explicado, então perguntei a um vendedor ambulante (que preferiu não falar o nome) próximo se ele daria uma entrevista para o blog Resistência Popular falando sobre o ato que faziam ali. E ele me informou que a manifestação acontecia pela insatisfação que tinham com as suas atuais condições de trabalho, porque foram massivamente retirados do local de trabalhavam e remanejados para um shopping popular, porém somente pouco mais de 400 ambulantes tiveram o “privilégio” concedido, enquanto a demanda total é de mais de 1000 trabalhadores, resultando numa situação em que mais da metade desses trabalhadores ficou sem um local fixo para comercializar seus produtos, o que afeta muito suas rendas mensais. Ele ainda me disse que os trabalhadores informais foram retirados de seu antigo ponto (próximo à praça dos palmares) por pedidos dos empresários, e que certamente estavam em conluio com o estado para ter tal vontade efetivada.

Então impulsionados por todos esses motivos, os manifestantes estavam pedindo, com a força de toda sua massa que revindicava ali, que lojistas que fechassem suas lojas, paralisando e assim impedindo que o comércio formal continuasse com suas atividades durante aquele dia, porque: “Ninguém trabalha aqui no centro enquanto a gente também não tiver condições de trabalhar com dignidade(...) e as lojas só vão voltar a funcionar quando o governo resolver nossa situação” me disse o ambulante. E quando perguntei sobre a correria dos presentes em direção oposta a dos manifestante, ele me disse: “o pessoal não precisa ter medo nem correr, que a gente não vai quebrar nada, não vai ter bagunça, a gente só quer fechar as lojas pra poder ser ouvido”.

Então os manifestantes se aproximaram do local onde eu estava, onde foram abordados pela polícia, dizendo que os trabalhadores que ali protestavam não poderiam fazer aquilo, porém eles continuaram firmes em seu propósito de luta, se espalhando e continuando a pedir o fechamento das lojas.

A situação continuou nesse clima até o meio dia, aproximadamente, quando então o movimento se intensificou, e da mesma forma a quantidade de policiais cresceu, e esses já se dividiam entre viaturas e motos e carregavam bombas em punho e apontavam suas armas em direção a manifestantes, ameaçando a segurança e intimidado assim todos os presentes (que a essa altura já não eram só manifestantes, mas lojistas, transeuntes, populares etc) então a repressão policial logo respondeu violentamente  às manifestações que continuavam a todo custo por parte dos trabalhadores informais que revindicavam seus direitos, então lançaram primeiramente bombas de efeito moral em direção aos cantos mais aglomerados de participantes do protesto e logo depois formaram um bloqueio da passagem para conter a progressão do protesto.

A situação ficou muito mais tensa quando o BOPE apareceu, saindo de uma rua próxima a Casa Vieira, onde cerca de doze agentes formavam um esquadrão, vestidos todos de máscaras pretas, e portando armas e bombas preparadas para o uso imediato. Nesse momento inclusive os policiais da PM se afastaram do local, retirando-se do meio e ocupando os cantos, ficando encostados às paredes. Enquanto isso um grande número de pessoas entoavam e repetiam: “Queremos trabalhar!” e mesmo somente com essa ação pacífica de contestação que os ambulantes faziam, o BOPE pressionava e coagia os agitadores do ato, quando então um dos manifestantes, num ato de enfrentamento às forças coercivas ali presentes, que tentavam oprimir aqueles trabalhadores e para tal utilizavam-se de seus aparatos bélicos, atirou uma pedra em direção à viatura, sendo então perseguido e preso pela polícia, apesar de sua resistência durante essa ação.  

Em seguida ao acontecido, os policiais do BOPE, gratuitamente, sem que houvesse ameaça concreta alguma por parte dos outros presentes, atirou em direção às pessoas, duas bombas, o que causaram ferimentos em alguns presentes e a dispersão dos que protestavam, e esses ainda foram perseguidos a chutes e cassetetes por policiais militares e alvejados (por bala de borracha) pelas costas enquanto se afastavam do local por policiais do BOPE, resultando em quatro homens feridos, cada um com pelo menos quatro tiros espalhados pelo corpo, e um deles atingido por um tiro na cabeça.

Depois das revoltantes ações de completo abuso de autoridade, violência gratuita, truculência e desrespeito aos direitos civis de ir e vir e de protestar, os polícias (BOPE e PM) presentes seguiram fazendo uma caminhada de dispersão do movimento, amedrontando com suas armas os manifestantes que resistissem e insistissem continuar de alguma forma protestando naquele espaço.

 E então finalmente seguiram até a Rua da Alegria, onde pareciam se preparar para deixar a área, nesse momento dois carros do BOPE deixavam o local, um com policiais já em cima e outro com apenas o motorista, enquanto cerca de doze deles caminhavam de costas (mas ainda empunhando suas armas e em formação de confronto) se afastando do local, o fizeram sem mais conflitos e impedimentos até o final da rua, quando subiram todos no carro, e uma vez feito isso, sem que houvesse qualquer ameaça, qualquer clima de tensão, qualquer aproximação de manifestantes; cerca de quatro policiais que ocupavam a traseira do carro de trás, começaram a desferir diversos tiros em direção à multidão de pessoas que circulavam no local, causando o mais completo desespero em todos, com total e absoluta imprudência, não querendo tomar nota se haviam ali somente manifestantes, transeuntes, curiosos, lojistas, crianças, moradores das imediações, etc, pra eles não importava quem ou por qual motivo estariam ali, todos correram o mesmo risco de serem alvejados sem saber a razão, e comigo não poderia ter sido diferente, escapei por poucos metros da linha de fogo feita pelos policiais.

Com a saída do BOPE, alguns manifestantes remanescentes retomaram com vitalidade, apesar de todos os lamentáveis e repressores acontecimentos, a rua do comércio com as palavras de ordem direcionadas às lojas.

A.A. – militante da Resistência